O que é o “Dream Job” para você?

Querida amiga expatriada,

bem na semana do dia da mulher, eu passei por 122mil mixed feelings. 

Vou começar por essa pesquisa da Mckinsey: Women in the Workplace 2020. Leiam! Compartilhem! Tirem print!

Breaking the glass ceiling

No google isso quer dizer: The term was first popularized in the 80s to describe the challenges women face when their careers stagnate at middle-management roles, preventing them from achieving higher leadership or executive roles.

Esse glass ceiling deu uma quebrada desde 2015, como mostra a pesquisa da McKinsey, mas veio a pandemia e o mundo virou ao avesso. Pior, as mulheres estão levando o mundo nas costas, sem escolha alguma!

Esse gráfico mostra, detalhadamente, o que estamos vivendo, como mulheres:

  • reduzimos o horário de trabalho,
  • mudamos de um emprego para uma demanda menor,
  • tiramos uma licença temporária,
  • mudamos de um trabalho full time para part time,
  • pedimos demissão.

E muito mais, como: várias mulheres perderam o emprego, trocaram de área, mãe solo faz como, e todo aquele rolê que sabemos bem porque vivemos diariamente. Umas com mais privilégios e outras como menos privilégios.

Aqui tem outro vídeo, sobre o mesmo assunto, da maravilhosa da VP dos EUA, Kamala Harris.

O que eu queria da vida aos 40 anos?

Quando eu era xxxóven, eu sempre respondia aquela típica pergunta de RH, da época, que casaria aos 30 anos, teria filhos e aos 40 anos eu queria trabalhar para uma empresa de TI gerenciando o mercado da América Latina.

E aí?

Aí que esse ano, em maio, vou fazer 40 anos.  

Sem plásticas, mas com botox na testa, claro. Com duas filhas saudáveis. Sem três órgãos do corpo, mas me livrei de 11 tumores (amém!). Com um marido ma-ra-vi-lho-so que me apoia sempre. Sem morar no Brasil, mas com uma vida expatriada recheada de experiências maravilhosas. Sem o tão sonhado emprego na América Latina, mas com o mercado de NEMEA (Europa Norte, Oriente Médio e África). Ou seja, MUITO melhor no meu ponto de vista (porque não faço e nem sigo planos).

E, você?

O que é o Dream Job para você?

Algumas pessoas acham que o dream job é o salário anual acima dos três dígitos. Outras é o cargo XPTOPQPKCT. Eu acho que essa figura acima, enviada no meu grupo de zap por uma amiga, é o perfeito resumo do Dream Job.

E na pandemia, muita coisa mudou. Quem pode sentar a bunda na cadeira e trabalhar 12horas por dia com os filhos em casa? Hello! E mesmo quem não tem filhos, isso não é vida.

Eu tenho duas empresas que gostaria MUITO de trabalhar na área de TI. Sim, coloquei como dream job da vida! Uma empresa, eu passei em uma entrevista, há nove anos, mas descobri que engravidei no meio do processo e pedi para sair. A moça do RH me disse que fui muito honesta. Ficou chocada! Porém, não iria mentir.
E a outra empresa me ligou na semana passada. Yayyy!
Participei do processo seletivo. Foi bem interessante. Treinei entrevista (claro!), gravei video de como eu falava, via, fazia de novo, de novo e de novo. Me preparei. Veja bem, não é sorte! Não digam isso para ninguém. Eu estava na hora certa, no lugar certo BUT preparada. É diferente, sabe?
Só um pequeno parênteses aqui sobre não ter nada a ver com sorte. Uma seguidora me mandou mensagem para um café há dois anos, em Rotterdam. A encontrei, conversamos e perguntei se ela queria trabalhar comigo. SIM, ela passou e trabalhamos juntas até hoje. Ela não teve sorte. Ela estava na hora certo, no lugar certo mas ela era MUITO preparada, entende? Tinha todos os checks das caixinhas do job description. Mérito total dela. Meu, o mérito é só de sempre que puder, vou contratar uma mulher, e brasileira, claro.
Voltando … passei! Uhuuuu!
Se eu fiquei feliz? Maomeno. Eu chorei muito. Ok, soy mucho loca! Quem me conhece, sabe. No fundo, eu queria muito. A vida toda eu quis, mas não sabia mais o que fazer.

Aceitar ou não aceitar?

Primeiramente, eu cresci em uma família que minha mãe sempre ganhou mais do que meu pai. A dona do rolê AND da poha toda. Tenho MUITO orgulho dela por isso!

Antes de casar, eu só pensava na carreira 122mil%. Thiago me ensinou muitas coisas, mas a melhor dela foi slow down e pensar, também, na qualidade de vida. E hoje, aos quase 40 anos, é meu foco principal. Por outro lado, eu amo dinheiro, gosto de comprar minhas bolsinhas, quero ficar rhycah para viajar o mundo e ajudar quem precisa.

O meu sonho de anos atrás não é o mesmo de hoje. Muitas coisas que eu queria naquela época, eu já conquistei e até mais. E isso não é somente sobre a minha idade, mas também sobre a idade das minhas filhas, 5 e 8 anos. Elas ainda precisam muito de mim. Não temos família perto, e gostaria de criá-las com os pais super-mega-ultra presentes.

Eu chorei. Pensei. Fiquei sem dormir. Falei com várias amigas e amigos. Perguntei. Concordei. Não concordei.

Conversei com Thiago. Conversei com minha mãe. Eu sei que eles apoiariam qualquer decisão minha.

BUT I SAID NO! 

Pois é, você deve pensar que sou doida porque era o dream job da vida dela! Pqp! E agora?

Na verdade, era a minha dream company da vida. Eu queria MUITO trabalhar nessa empresa (ainda quero!), mas o dream job, no fundo, eu já tenho. Simplesmente, porque mesmo tendo outras opções eu decidir ficar. Fico porque a minha situação atual preenche todas os requisitos que eu queria para minha vida hoje. Eu faço um puta milagre em trabalhar full time, ultrapassar as metas de vendas todos anos, fazer 122mil serviços domésticos em casa e criar as meninas.

E tudo bem também …

Eu sei. É difícil escolher, mas hoje eu fiz a escolha certa.
Não a escolha de trocar o certo pelo incerto ou da zona de conforto para a zona de expansão, mas a escolha do que é melhor para minha família no momento.
Se minhas filhas fossem mais velhas, eu estaria lá na segunda-feira de salto alto, make e um belo colar poderoso. BUT eu escolho minha família e está tudo bem.
Está tudo bem também não trabalhar fora e escolher cuidar da casa e família (o que eu acho que é muito mais trabalho!).
Está tudo bem também, porque a mulher pode ser e fazer o que ela quiser!
Eu, como geminiana-bipolar-momento Ruth e Raquel do Tonho da Lua,  vou acordar um dia e pensar se fiz a coisa certa. Mas hoje eu acordo com a consciência tranquila, maquiada, cheia de balagandãs porque derrotada jamais! 😉

 

 

Home is where the heart is

Querida Migs expatriada,

eu nasci em São Paulo. Vivi quase a minha vida toda no mesmo apartamento em Pinheiros/ Vila Madalena (amo esse bairro!). Até que eu conheci o Thiago. Ele estava no último ano do MBA, em Michigan. E eu estava cursando MBA na FGV. Nós namoramos a distância durante um ano. Nos viamos em alguma cidade pelo mundo, como Trancoso, São Paulo, Recife, Las Vegas, Ann Arbor, Chicago … era maravilhoso, e ainda é!

Ele estava entrevistando para vagas em diversos países, até que acabou escolhendo trabalhar em São Paulo. Fomos morar juntos – pecadora e amigada feelings! –  com o casamento marcado para o ano seguinte (2011).

Migs,  e aí? Aí que eu nunca mudei de casa na vida, comecei a mudar naquela época e não parei mais.

Vida cigana.

Nos últimos sete anos moramos em cinco países: Sao Paulo (Brasil), Santiago (Chile), Londres (UK), Madrid (Espanha) e Amsterdam (Holanda). Foram sete casas e muitos flats, quando ainda não tínhamos casa, com duas filhas. Sempre levamos toda a mudança no container. Tá! Já posso imaginar a sua cara de “Miga, sua Loka!”.

Acho engraçado quando posto que vou me mudar. E sempre alguém pergunta admirado: Noooossa, mas o que aconteceu? Oxe, como se fosse algo ruim!

Papel de parede X Fura aqui e acolá.

Deixa eu te contar, mudar não é um problema para mim. Eu gosto.

Sabe aquele sonho de escolher papel de parede, reformar a cozinha e escolher os azulejos do banheiro? Então, não é o meu sonho. Sonho, cada um tem o seu.

Por outro lado, eu já coloco todos os quadros na parede logo na primeira semana (sou apaixonada por arte!), mesmo meu marido odiando furar parede,  porque isso me faz sentir em casa.

Vida expatriada.

Migs, lembra quando seu marido falou: nós vamos mudar de país. E aí passa um filme na sua cabeça sobre o que eu fazer com a casa. Então, já passei por isso também. Tínhamos acabado de comprar o apartamento dos sonhos em Sampa, e no mês seguinte resolvemos mudar para o Chile. E foi a melhor coisa que aconteceu nas nossas vidas!

A única coisa que eu falo e repito é praticar o desapego nessa vida expatriada.

Migs, sempre vai ter o trade off. Isso é fato.

A partir do momento da sua decisão em deixar país, você terá que abrir mão de muitas coisas, e vai ganhar tantas outras também.

Já conheci expatriadas que resolveram deixar a casa montada, mas fechada no Brasil. Ops, você também? Migs, como é que a nova vida vai dar certo? Como é que você vai virar a página, e escrever uma nova história se ainda está na página anterior? A conta não fecha, principalmente a financeira. Aluga. Vende. Doa. Faça qualquer coisa desde que seja para frente, pensando no futuro.

Algumas perguntam: e se não der certo? Ahhh você faz algo  na vida já pensando que não vai dar certo? Casa já pensando em separar? Claro que não.

Não precisa ser mega desapegada, como eu, nesse lance de fechar a porta e tchau. O importante é fechar um ciclo para começar outro.

Brasil X Morar fora.

Sempre. Sempre. Sempre em toda roda expatriada rola uma discussão se é melhor morar no Brasil ou Amsterdam, Londres, Madrid, USA, China, PQP e etc. Algumas preferem nitidamente o Brasil e outras qualquer outro lugar no mundo que não seja o Brasil.

Até que alguém fala da família, nossa cultura, infância … isso quebra as pernas, claro. Vamos comparar banana com banana? Nem isso da para comparar direito porque aqui, em Amsterdam, só tem um tipo de banana sendo que no Brasil tem milhares.

Migs, é claro que se você pensar na familia, amigos de uma vida toda, comida, sol … o Brasil sempre será muito melhor do que qualquer lugar do mundo.

Home is where the heart is.❤

Se você escolheu morar fora, faça desse lugar a sua casa.

Arrume, em primeiro lugar, a sua casa com tudo o que gosta. Tá sem grana? Tem site de coisas usadas e lojas baratex. Decore com adoráveis inutilidades de viagens ou do Brasil, para matar as saudades. Isso vai te fazer se sentir em casa. Fotos de familiares e amigos. Lembranças de momentos especiais.

E sabe o que fazer com a saudade? Compra uma cômoda da Ikea – certeza que você tem uma se mora na Europa – e enfia a saudade na gaveta até a próxima ida ao Brasil.

Se você não consegue se adaptar ao novo país. Tente pelo menos por seus filhos. Fale claramente e quantas vezes puder que essa é a casa de vocês. É difícil para nossa cabeça, imagina para nossas crianças? Por exemplo, as minhas filhas choram quando voltamos das férias no Brasil, mas elas nunca me perguntaram ou pediram para morar lá. Simplesmente, porque eu deixo bem claro que a nossa casa é aqui. Não quer dizer que eu não quero que elas morem lá um dia, mas elas precisam crescer e entender que nós moramos em outro local.

Em Madrid moramos apenas seis meses, mas a casa estava montada, todo mundo super adaptado, falando espanhol também, conheci amigas para uma vida toda, fiz 122mil coisas, viajamos muito e comemos todos os solomillos e croquetes possíveis até partirmos.

Não precisa me perguntar se prefiro o Brasil ou a Holanda.

Não precisa me perguntar quando vou mudar novamente.

Não precisa me perguntar onde vou morar o resto da vida.

Não precisa me perguntar até quando vou ficar por aqui.

Nós estamos felizes aqui, em hAMSTERDAM na chuvOLANDA. Isso é o que importa. Aqui é a nossa casa!

E se tiver que mudar de novo, está tudo bem também. Porque afinal o mundo é muito grande para ficarmos no mesmo lugar.  ❤

Eu amo essa música e resume tudo isso.

 I don’t know where I am going but I am going to make it home … e você?

 

Vale a pena trocar seis por meia dúzia na carreira x maternidade?

Querida Migs expatriada, 

Conversa vai e conversa vem. E eu sempre vou voltar no assunto carreira x maternidade.

No blog tem vários posts, como esses: 

Mãe expatriada X Carreira internacional

Sobre conseguir emprego na Europa

She finds a way

Você trabalha?

Quer trabalhar na Europa? 

Dopada de vida de Cinderela

Oi, muito prazer. Essa sou eu no Brasil. 

Migs, eu morava rhycah-plenah-phynah nos Jardins, em São Paulo, quando a Valentina nasceu. Entre as mamadas passeava na Oscar Freire, ela dormia tranquilamente no carrinho.  Depois mudamos para um apto coxinha-varanda-gourmet com brinquedoteca, piscinas e 122mil salões de festas. Minha mãe e meu sogro moravam perto e sempre nos ajudavam. Eu ía a pé ao trabalho, e Thiago trabalhava no Itaim. Eita vida boa na bolha paulistana. 

Quando a Valentina fez seis meses, tínhamos acabado de comprar um apartamento, e mesmo assim enfiamos a casa em um caminhão (container), vendemos carro, moto e fomos para o Chile.

Nesse momento acordei para a vida! O clique, sabe? Quem já passou, sabe bem o que estou dizendo. Acordei da vida dopada de Cinderela. 

Sobre ser mãe fora do Brasil 

Eu não tenho a menor ideia do que é ser mãe no Brasil. Atualmente, as minhas filhas tem 4 e 7 anos de idade e toda a vida delas moramos fora do Brasil. 

Migs, se você é mãe, e está chegando agora na Zoropa, se já mora por aqui ou pensa em mudar para esses lados, saiba de duas coisas: 

1. Vai passar perrengue chique 

2. É fodástico se recolocar em outro país depois da maternidade, sem ajuda e sem familia perto. 

Tendo isso em mente, bora lá … 

Salários x Nursery/Creche/Escola

Eu já falei desse sentimento de “empobrecimento” nesse post aqui .Na Europa, não tem uma grande discrepância de classe social como no Brasil. Outro ponto é que as mulheres ganham menos. So sorry, feministas, eu adoraria não escrever isso mas “that is the fuc… way it is”. 

Em Londres e Amsterdam uma creche/nursery vai custar em média entre €/£1,600 a €/£2,000 por mês de segunda a sexta. Isso é um salário de uma mulher na Europa. Isso mesmo, Migs! 

Sendo assim, quando você muda com ZERO experiência no mercado Europeu, o seu salário será todinho para pagar a(s) escola(s). Parece surreal, né?

Vale a pena trocar 6 por meia dúzia? 

A Valentina e Vic foram na mesma nursery privada em Londres.  Pagávamos, na época, £1,100 para a Valentina. Para a Vic, aos seis meses, pagávamos £1,600. Continha básica, ou seja, pagávamos £2,700 de escolas para as duas. Migs, de acordo com o câmbio dava R$16,200 por mês de escolas. Pois é!!! 

Eu ganhava mais do que isso, em 2015, em Londres. Porém não muito mais do que isso. Não tenho vergonha nenhuma de falar (muito pelo contrário!), porque você precisa saber a realidade que ninguém conta. Saber, também, que não é puro glamour morar na Europa. E principalmente fazer seus cálculos sobre como viver com filho na Zoropa.

Pois bem, a conta era que praticamente TODO meu salário pagava as escolas das meninas. Clarooo que você vai perguntar: “mas e o marido?” Gentchy, é apenas um modo de dizer que eu pagava toda a escola, porque aqui em casa temos conta conjunta desde sempre.

A questão é se não seria melhor eu ficar em casa cuidando das duas e não trabalhar? Enfim, naquela época, eu me perguntava TODOS isso mesmo. Será?

Acordava 5:45 já esbaforida de tudo, entrava mais cedo e saia mais cedo (caso tivesse um ataque terrorista no metro eu ainda tinha um tempinho extra) para busca-las. Pensava em pedir demissão uma vez a cada estação de ano, mas no inverno piorava muito. Minha filha mais nova tinha crises fortes de asma de madrugada. Eu tinha ajuda 6h na semana, e uma rotina pesada durante a noite sozinha, porque meu marido deixava as duas na escola mais tarde pela manhã, assim voltava mais tarde para casa também.

SIM, vale!!!

Migs, hoje olhando para trás … eu estou há cinco anos na mesma empresa, e valeu MUITO a pena ter “doado” meu salário para a creche. Hoje, as minhas filhas estão com 4 e 7 anos.

Em 2019, finalmente consegui minha carreira de volta. Foi o melhor ano profissional da minha vida. Eu fechei a maior conta da história da empresa (trabalho em vendas de TI) e bati 210% da minha meta. Uhuuu!!!

Recebi essa notícia em mais um dia de caos da minha vida. Eu estava home office. Elas não tiveram aula. Já tinha visto se estavam com piolhos, sempre importante checar. Enfim, mortinha da silva. Quando eu recebi a ligação, chorei muuuuuito. Pulei muuuuito com minhas filhas também. Foi um dos dias mais felizes das minha vida!!! Pois é, para você felicidade deve significar outra coisa, mas para mim sempre foi minha familia em primeiro lugar e depois minha carreira. Por quê não? Sou mãe mas também estudei e ralei para chegar até aqui. Me passou um filme na cabeça, das 32 entrevistas que fiz para conseguir um emprego na área, e finalmente fechar essa conta. E eu nunca vou esquecer o dia 25 de outubro de 2019. Obrigada!

Vale a pena. Valeu a pena. Sempre vai valer a pena.

Migs expatriada, tenho certeza absoluta que você já deve ter ido em alguma entrevista que pagava pouco. Você queria um salário maior, claro. Nós sempre queremos mais, o que eu acho ótimo. Porém não aceitou porque era o mesmo valor para pagar a creche do filho. Eu escutei essa história dazamigas em todos os países que morei.

Também escutei e escuto diariamente que não é possível porque o marido viaja muito a trabalho ou chega tarde. Oi, prazer! Essa é minha vida e de muitas outras também. Meu marido chega tarde todos os dias, e viaja uma a duas semanas por mês. Eu simplesmente faço acontecer. Dou um jeito para dar certo, muitas vezes da muito errado e tudo bem.

O mundo perfeito do Brasil: familia morando perto, dinda que salva, empregada, babá e avós que ajudam. Rá!!! Ficou lá, Migs. Aceita que dói menos.

Aqui, do outro lado do mundo, pode ser um bom momento para tirar do papel aquele projeto de empreender, fazer um curso, enfim de fazer algo por e para você. Realmente, é mesmo surreal ter aquela vida insana do Brasil de trabalho aqui. Não da. O importante é encontrar um balanço. O que funciona para você, e principalmente para sua familia.

Nesse ponto, a Europa está super avançada. As mulheres podem trabalhar duas, três ou quatro vezes na semana – part time. Quando engravidam, isso não quer dizer férias, tá? Eu sai de licença maternidade no Brasil e tinha 12 pessoas na minha equipe. Quando voltei, tinha apenas uma porque eles pensavam que eu estava de férias. Pelo amor!

Crie metinhas, metas e metonas com deadlines. Senão a vida passa, marido fala que vamos mudar de novo, as kids crescem e não precisarão mais tanto de você como agora.

Eu acho que vale a pena trocar seis por meia dúzia, por experiência própria. Simplesmente porque não é uma troca eterna. Somente naquele momento que você está aprendendo sobre o mercado europeu, por exemplo, e se ajustando nessa nova vida.

Vale a pena ter experiência em um mercado internacional. Vale a pena aprender algo novo, como uma lingua. Vale a pena aprender sobre uma nova cultura no trabalho. Vale a pena sair de casa, colocar salto alto,  batom e partiu escritório. Vale a pena comer em paz na rua. Vale a pena ir ao banheiro sozinha (sem filhas). Vale a pena conversar nem que seja sobre a poha da chuva da Holanda, mas não sobre fraldas. Vale a pena pegar chuva, neve e passar perrengue chique para ir ao trabalho. Vale a pena ter uma vida sua, depois que você abre mão da sua carreira pela do marido, e muda de país. Vale a pena mesmo se seu sonho nunca foi ser rhycah, mas ganhar dinheiro é muito bom, obrigada.

Eu trabalho três dias da semana em casa e dois dias em Rotterdam. Meu chefe já falou algumas vezes que eu não preciso ir, se não quiser. Mas eu quero! Eu quero me arrumar, pegar o bus e trem, trabalhar e ter a minha vida. Muitas e muitas vezes a minha vontade foi colocada em segundo plano, porque primeiro vem minha familia, além de ter mudado de país várias vezes nos últimos anos.

Fácil é trabalhar fora, Migs.

Difícil é ficar em casa com as kids. Meldels!

Vou descansar no escritório.

Beijocas, Nati. 

 

 

Classe “merda” na Europa X Rhycah no Brasil? As pessoas são pessoas e não classes sociais.

Querida Migs expatriada,

morei em alguns países e sempre mantenho contato cazamigas brasileiras. Tenho váriosssss grupos de whats: Amigas da Nati Holanda, Madrid, Chile, London … e até no Canadá. Rá! Só fiz intercâmbio lá, mas apresentei umas amigas em comum. Eu ADORO apresentar azamigas; conectar as pessoas.

Tem um assunto que conversei diversas vezes cazamigas brasileiras de Londres e Holanda.

Classe “merda” na Europa X Rhycah no Brasil

Migs, na real, nem sei por onde começar. Se você é expatriada, vai me entender melhor. E se você mora na Europa vai sacar logo a real do rolê.

Bora lá …

Eu sei que o brasileiro pensa que vai para a Europa, arranjar um super trabalho e virar rhycoh. Oi? Sinto lhe informar mas na na ni na não.

Se você vier ilegal, vai batalhar muito em um trabalho aqui e outro acolá. Ganhar uma grana, não vai pagar impostos, e vai mandar uma grana para sua família. Aqui na Holanda, pode usar o sistema de saúde e escolas (o que eu sou super a favor!), e assim segue a vida nesse ciclo até onde for possível.

Se você/ seu marido recebeu uma oferta e quando você viu o valor em euros e fez a conversão, logo pensou que tinha ganhado na loteria. Ledo engano, Migs!

Ainda nesse sentido, eu acho o máximo quando falo que uma coisa custa 1000 euros, e a pessoa fala que é o mesmo do que 1000reais. Não, Migs! Jamais. Faça a conversão do dia. Sempre. Agora, se vier com aquele papo de quem converte não se diverte. Boa sorte! Depois vá correr atrás do rabo para pagar a conta do cartão de crédito do Eurosummer.

Migs, para tudo e rebobina a fita.

A desigualdade social no Brasil

Nós viemos de um país com MUITA desigualdade social. Tudo é muito discrepante. Não sei vocês sabem, mas apenas 1% da população ganha 50 mil reais (renda familiar). Migs, estamos falando de apenas 1% de 210 milhões de habitantes. Privilégios, cotas (sim, sou super a favor, por quê não?), bolha… ixi, posso ficar horas falando disso aqui.

Mesmo você tapando o sol com a peneira – como falam em Recife – essa é a realidade no Brasil. E aí que crescendo dentro desse sistema é muito difícil imaginar algo diferente.

Você faz mil cursos, faculdade, pós, MBA e etc. Trabalha, rala e vai “subindo” na vida para comprar o tão sonhado apartamento de varanda de coxinha, carrão (talvez blindado), sócia de clube, babá, empregada ou diarista, e escola privada-bilingue ou internacional (se for “milho”nária!).

Migs, não estou falando que isso é certo ou errado, não encare como uma crítica, porque cada um é livre para escolher e manter o padrão de vida que acha necessário, mas that is the way it is de viver na bolha.

Eu também já vivi na bolha e comprei apartamento de varanda de coxinha em SP há quase sete anos. A gente batalha para construir um castelo no Brasil e morar dentro dele, porque não é seguro lá fora.

Só que do outro lado do oceano não é assim que as coisas funcionam …

Você está disposta a mudar seu padrão e vida, e principalmente o mindset para morar na Europa?

Vamos começar colocando os pés no chão mesmo. Eu sempre falo isso, mas é a verdade. A Europa me fez colocar os pés no chão para tudo nessa vida.

Vou citar exemplos de classe “merrrda”, tá? Eu sei que é problema do tipo #forçaguerreira.

Se você mora em um apartamento de 3 ou 4 quartos no Brasil, vai morar em um apartamento na Europa de dois quartos e um banheiro. SIM, você vai dividir esse banheiro com sua família e inclusive com as visitas. Na Holanda, a maioria das casas tem a privada separada (em um quartinho mini) do banheiro (pia, banheira/ chuveiro) – já morei numa casa assim.  Imagino minhas amigas brasileiras lendo isso e achando surreal. Pois é!

Claro que tem apartamentos e casas maiores, mas em bairros mais afastados e tudo você terá que pesar na balança. Por exemplo, em Londres você paga mais caro em um aluguel para seu filho estudar numa escola pública excelente daquele bairro, uma vez que só pode estudar na escola pública próxima a sua casa. Então não faz diferença morar em uma casa de um banheiro se a prioridade é uma puta escola, entende?

O brasileiro é super mal acostumado. Sempre TEM alguém para fazer algo para você. Seja estacionar seu carro, fazer sua mão, limpar sua casa, passar sua roupa, ir ao mercado para você, fazer a festa dos seus filhos, limpar a bunda dos seus filhos no fds e etc.

Aqui na Europa o lema é FAÇA VOCÊ MESMO!

No Brasil, a pessoa compra carrão zero. Troca de carro frequentemente. Deixa eu te contar, eu tenho pouquíssimas amigas que tem carro na Holanda e em Londres. Em Madrid a maioria tem porque morávamos em um bairro fora do centro. Nós compramos em Londres um carro usado e em Madrid outro carro usado. Meu marido veio dirigindo de Madrid até Amsterdam, e seguimos com o mesmo carro sem previsão de trocar. Trocar para quê se está funcionando? No Chile, o carro custava 50% do valor do Brasil. Migs, carro é visto pela sua função como meio de locomoção.

Já falei em outros posts sobre o valor por hora da cleaner. Não tem como ter uma mensalista. Não da para pagar e não tem necessidade. Eu tenho uma cleaner (Thais querida!) seis horas na semana, e Migs, é MUITA coisa. Comecei com 3h por semana em Londres.

Migs, morar na Europa é descer o padrão de vida.

SIM, você vai ter uma sensação de “empobrecimento” porque “acha” que abriu mão de muita coisa, mas a verdade é que você está priorizando o que quer na sua vida. Está aprendendo e crescendo muito. E principalmente a vida como parte da sociedade.

Vivendo em uma sociedade justa na Europa.

Tenha apenas uma certeza quando se mudar para o lado de cá do oceano: você vai passar perrengue chique!

E eu estou falando de Europa, ok? Porque nos EUA tem carrão, mansão, ketchup enorme, embalagem giga, muitos cupons, TJ MAX onde 1+7 +8 é igual a USD100,00, estacionamento enormes, escolas públicas excelentes, sistema de saúde público uóóó de caríssimo, férias de 15 dias ao ano (se possível!), licença maternidade de 1 mês (armaria!) e para fechar uma garagem para encher de compras e coisas que você não precisa. O Brasil se espelha muito nesse american way of life.

Agora, voltando para a Europa …

O primeiro baque, Migs, é que você e seu marido vão trabalhar muito e não terão uma vida luxuosa. O salário anual pode ser de seis dígitos, mas o luxo passou longe; bem longe.

Tenha consciência disso.

Uma visita, quando morávamos em UK, disse que preferia ser rhycoh no Brasil do que morar na Europa sem ajuda. Valores, né? Cada um tem o seu.

É uma vida super hands on. Por exemplo, a Ikea – sua nova BFF. Uma mistura de amor e ódio forever.  Você vai sair da loja com as compritchas e montar; pelo menos tentar montar sozinha em casa. Nesse mesmo armário de IKEA, você vai enfiar seu “guarda-roupa cápsula” – nome chique para só tenho e cabe isso mesmo.

Você vai limpar sua casa, porque simplesmente todo mundo faz e a mão não cai por isso.

Você vai buscar meios de economizar simplesmente porque prefere gastar numa viagem bacana.

Você vai se moldando do jeito que dá e até onde dá. Já falei nesse post aqui sobre Trying to fit in.

Você vai sair para jantar uma vez ao mês chique com o maridón de metro ou bus. Vão voltar correndo antes das 23h para a babá poder ir embora a tempo de pegar o metro.

Você vai fazer a mão e pé em casa porque pagar €45/60 dói demais.

Você não vai fazer festa de casamento, ops infantil, megalomaníaca.

Você não vai comprar 122mil sapatos com frequência, simplesmente porque isso não faz mais sentido na vida. Deixou de ser prioridade!

Você vai desapegar de muitas coisas.

Você vai desapegar de pessoas que não pensam como você, e não estão na mesma vibe. Tudo bem também e isso faz bem!

Você vai aprender e crescer muito. Na diversidade, a gente aprende, cresce e brilha.

Você vai ser mais justa com o mundo. Tenho certeza!

Você vai gerar menos lixo. Oba!

Você vai andar na rua sem medo que alguém possa te matar na esquina.

Você vai conviver com pessoas do mundo inteiro, de diferentes religiões também.

Você aprende a ter mais empatia.

Você não vai ser rhycah/ “milho”nária como no Brasil, mas vai ser feliz e leve!

Você aprende a ser mais “Poliana” (ver tudo cor de rosa e sem maldades), do que “Gabriela” (nasci assim e vou morrer assim) – Te Ganem, essa é para você!

Migs, pense bem em tudo isso antes de mudar. É um caminho sem volta. Depois que você muda esse mindset, com certeza vai se ver livre de muita coisa que a sociedade considera importante.

Prioridades! 🙂