Sobre empatia nessa vida expatriada: “my one person”.

Querida Migs expatriada, 

estou nessa vida expatriada, mudando para lá e para cá, há seis anos e meio (para quem não me conhece). 

Sempre quando as coisas vão “muito bem, obrigada” em algum país, vem meu marido e fala que vamos mudar novamente. E só quem já passou por isso, sabe exatamente a sensação, de tudo junto e misturado, que é começar do zero em um novo país. 

Migs expatriada, por favor, leia esse textão: 

Am I invisible? One mom’s pain-relieving response to being excluded

Parte do texto: 

Remember this.

“Remember this when you are in familiar territory and someone new walks up looking for guidance.

Remember this when you see someone on the outskirts anxiously holding her own hand.

Remember this when someone approaches you and asks a question – see the bravery behind the words.

Remember this when you see someone stop trying – perhaps he’s been rejected one too many times.

Remember this when you see someone being excluded or alienated – just one friendly person can relieve the painful sense of feeling invisible.
Remember the deepest desire of the human heart is to belong … to be welcomed … to know you are seen and worthy of kindness.”

My one person. ❤️

Parte do texto: 

“I just hope I am not the only new kid in my class,” my older daughter said looking out the window. “I hope there is just one other new person.”

After a long pause, she repeated, “Just one.”

That had been my solitary prayer in the months leading up to the move … just one friend … just one kind friend for each of my girls. 

One person can instantly make you feel unalone, uninvisible … like you belong.

One person can do that.

One person can take away months of angst in an instant.

With one invitation, we can take someone 

From outsider to insider 

From outcast to beloved member 

From unknown neighbor to coffee companion 

From wallflower to life-of-the-party”.

Mês passado conheci a Fê, brasileira que morava em Singapura. Ela tinha acabado de chegar com a filha (querida!) e marido. Foi ela quem me mandou esse textão e falou que eu era a my one person ❤️ dela. Eu sou chorona mesmo (e daí?), e claro que fiquei emocionada e agradecida. 

Eu lembrei de todas as minhas my one person ❤️ nos países que morei. 

Um agradecimento especial para todas as minhas: My one person. ❤️

Em Santiago, Chile, a Celina Ferrari foi a minha. É minha amigona querida para sempre. Ela já morava no Chile, quando cheguei, e além de uma filha da mesma idade, tínhamos muitas coisas em comum. Ela me recebeu de coração aberto, me ensinou muito e ainda me faz rir todos os dias. Seja no insta, no zap, na vida virtual e real. Obrigada, Migs. 

Em Londres, a Paula Marquez foi a minha. Eu entrei em um grupo do facebook de mães brasileiras em Londres, e escrevi na caruda se alguém queria ser minha amiga, morava em Ealing e tinha uma filha de 1,5 ano. Migs, a Paulinha respondeu, marcamos no parque no dia seguinte e a noite ela me chamou e o Thiago para ver o jogo do Brasil na casa dela. Não tínhamos TV ainda. Existe coração maior do que esse? Desde esse dia, ela sempre foi e será minha BFF de Londres. 

Em Madrid, a Alessandra Moraes foi a minha. Uma amiga em comum nos apresentou. Ela foi em casa e me apresentou o mundo. Tudinho de Madrid e várias amigas. Se não fosse por ela, eu não teria tido as amigas maravilhosas da Espanha. Obrigada por tanto, Ale! 

Em Amsterdam, a Joana Barroso foi a minha. Ela foi tão my one person que a chamo de Crush. Uma querida! No dia que eu cheguei, tive que fazer o RG em outra cidade, deu tudo errado, errei o trem várias vezes, e na volta ela tinha marcado um café cazamigas e me chamou. Que carinho no coração. Muito obrigada mesmo, Crush! 

Seja a my one person de alguém ❤️

Se tem uma coisa que eu tenho certeza é que SIM, eu tenho prazer em ajudar! Muito mesmo. Eu não criei esse blog para ser blogueirany, não aceito coisas de graça, e não tenho intenção de ganhar dinheiro com isso. Eu escrevo aqui, porque quero ajudar as expatriadas pelo mundo. 

Eu faço questão de gastar o que eu tenho de mais precioso no mundo – meu tempo – com uma pessoa que chega em um novo país. 

Tem também o outro lado da história, claro. Eu mega ajudo, apresento mil amigas e a pessoa se ajeita na nova vida. Eu chamo para mil coisas e não me chama para um café na esquina. Migs, se eu fico chateada? Claro! Mas como  a autora fala: “Regardless of how anyone treats you, you stand to benefit. While some people teach you who you do want to be, others teach you who you don’t want to be. And it’s the people who teach you who you don’t want to be that provide some of the most lasting and memorable lessons on social graces, human dignity, and the importance of acting with integrity.” Fica a dica, né? 😉

Uma amiga de infância, Dani, que mora em Londres. Ela fala que eu sou a pessoa mais acolhedora que ela conhece. Eu abro a porta da minha casa (literalmente), da minha vida. Eu dou a mesma chance para todo mundo. O que a pessoa vai fazer com essa chance, é problema dela. 

Sobre empatia ✌🏽

Migs, se você conheceu alguém que acabou de chegar. Ajude. Se coloque no lugar daquela pessoa, ela viveu uma vida toda em outro país, deixou tudo para trás e está começando do zero. É fodástico! Um sorriso. Uma ajuda. Um “oi, tudo bem?” na nossa língua muda o dia, muda a nova vida. 

Tenha empatia. Ensine isso para seus filhos, também. Minhas filhas mudaram várias vezes de escola. E acalma meu coração quando elas falam de uma nova amiga. Meu muito obrigada a essas mães maravilhosas que passam isso para seus filhos. 

Se você está de mudança para algum país que morei, me manda mensagem no @expatriadaporamor que eu te ajudo, tá? Conta comigo! 

Perrengue chique pelo mundo afora!

Queria Migs expatriada, 

em primeiro lugar, você pre-ci-sa seguir no insta o Perrengue Chique. É de chorar de rir!!! 

Brasileiro acha que morar fora é puro glamour, tipo essa minha foto do post. Onde tudo acontece, a vida é maravilhosa e ainda se ganha em euros/ pounds. Uau! Migs, nós gastamos em euros também, tá? 😊

As pessoas romantizam uma vida que não é bem assim. Muito pelo contrário, tem muitos perrengues, e ainda são potencializados porque não temos familia, ajuda por perto, outra língua e não conhecemos a cultura. 

Agora, claro que não estou aqui para falar que os meus perrengues são maiores do que o seu. Apenas quero contar algumas dificuldades que passei nos países que morei. Migs, vamos combinar que é  muito bom rir das desgraças dessa vida. Rá!!!

Bora lá!!! ✌🏽

Sampa, Brasil

Apenas seis meses antes de casar (em 2011), eu comecei a passar mal. Vomitava do nada. Fui ao médico, e ele pediu um raio X. Estava eu linda e bela na sala do raio X quando a médica fez uma careta, olhou bem a tela, saiu da sala, voltou e falou: Natalia, acabei de ligar para seu médico. Ele já está ciente e pediu para você ligar assim que sair. Liguei e ele pediu para eu marcar endoscopia. Fiz a tal da endoscopia, tive alergia ao contraste, minha boca inchou e fiquei lá o resto do dia. Voltei ao médico. E ele me disse que eu tinha um tumorzinho básico (claro que não com essas palavras!) e se aumentasse apenas 0,5mm seria um câncer fatal. Gentchy, morri, né? Isso era uma quinta, na segunda às 5h da matina eu já estava linda, maquiada e arrumada no Einstein. Tirei a vesícula, o tumor e vida nova. Uhuuuu!

Santiago, Chile 

Quando mudamos para o Chile, um dos melhores amigos do meu marido iria ser o nosso fiador do aluguel (na época, não sabíamos que a empresa seria), mas ele deu para trás no dia, ou melhor, no horário de assinar no cartório. É óbvio que ele tinha todo direito do mundo, mas deveria ter avisado antes. Resumo: perdemos o apartamento, mandamos a mudança para um depósito e levamos apenasssss dois meses para conseguir outro apto. Moramos com a Valentina (oito meses, na época) durante dois meses em um flat micro. Aquela fase linda de papinha, 122mil malas, cinco graus e eu não conhecia ninguém. Para melhorar, tivemos que mudar de flat e fizemos a mudança usando o carrinho do mercado. Eita, perrengue chique!!! 

Uma vez a Valentina pegou rotavírus. Ficou internada três dias no hospital, eu peguei dela e fiquei um dia internada. Nós três saímos do hospital e voltamos para casa a noite. Thiago também pegou. De repente, acordei e ele estava desmaiado no banheiro. Como eu ía levantar um homem daquele tamanho? Valentina tinha 1 ano e eu estava so-zi-nha! Migs, aprendi nessa vida expatriada a me virar do jeito que dá. Voltamos para o hospital, claro. Uma amiga querida – obrigada Chrixxxx – me ajudava revezando entre um quarto e outro. Perrengão!!!

Londres, Reino Unido

Migs, era um belo dia de verão quando fui buscar a Valentina na creche. Tínhamos mudado há 15 dias. Ela tinha um ano e meio. Ficava duas quadras de casa. Ela estava super bem, a coloquei no carrinho e partiu casa. Sabe instinto materno? Então, olhei para o carrinho e ela estava  … convulsionando! Pois é, Migs. Minha filhotinha de um ano e meio estava tendo uma convulsão, e eu olhando para a pior cena da minha vida. Para piorar, eu não tinha bolsa, somente o celular mas não sabia o número da emergência (por favor, anotem sempre!). E pior, não passava uma alma viva na rua. Graças a Deus uma senhora, anja, saiu de casa e me ajudou. Eu já sabia o que fazer, porque uma amiga tem uma filha que já passou por isso. Tirei do carrinho e a protegi para não se machucar. Essa senhora ligou para a emergência, me ajudou em alguns procedimentos, chamou a ambulância e ficou lá comigo o tempo todo. Liguei para meu marido que tinha ido de bike nesse único dia, mas pegou o carro de qualquer pessoa para nos encontrar no hospital. A ambulância chegou super rápido. O médico me fez 122mil perguntas, e nessa hora eu agradeci minha mãe que me enchia o saco para aprender inglês enquanto eu odiava. Bom, Migs, depois deu tudo certo. Foram exames. Visitas em casa para acompanhamento. Ela teve febrile convulsion somente essa vez e graças a Deus nunca mais. No dia seguinte, comprei flores, um cartão e entreguei para essa senhora. Serei eternamente agradecida por ter me ajudado. Pior perrengue da vida!!! 

Tem também um relato do meu parto aqui. Um mini perrengue. 

Quando a Vic nasceu, em 2015, nós morávamos em Londres. Foi uma fase muito difícil porque eu ficava muito sozinha com as duas. Thiago trabalhava muitos dias do mês na Índia. Um belo dia, voltamos do museu com as duas. A Vic tinha 2 meses e Valentina 3 anos. Thiago ficou branco e falou que estava passando mal do coração. Migs, foi um perrengue perrenguístico! Ver meu marido passando mal, e eu com dois bebês em outro país sozinha? Meu leite secou e eu não parei de chorar. Foi o “tilti” para entrar numa mega fase de depressão pós-parto. Fui na médica de família, e ela achou melhor eu voltar para o Brasil por um tempo. Voltei. Fiquei os dois meses restantes da minha licença maternidade por lá. Ufa!  

Migs, quando você pensa que tudo vai melhorar … piora! Rá! Fui para o Brasil sozinha com as duas. Vic tinha 3meses e Valentina 3 anos. No voo a Vic pegou um vírus respiratório chamado sinsicial (sei lá escrever isso) e ficou 3 dias internada no Eisntein em SP. Saiu e teve que voltar. Foram 15 dias dela passando super mal com 3 meses de idade. Desesperador! 

 Madri, Espanha

Um belo dia de verão eu tinha uma cleaner, 6h na semana, e ela me disse que iria trabalhar em outra casa porque queria morar no trabalho e economizar no aluguel. Até aí ok. Eu não conhecia outra e era o primeiro dia das férias de quase três meses das meninas. Tudo bem também. Afinal eu já fazia tudo, ela dava um help nos banheiros e limpeza pesada da casa. Só que meu marido me liga e fala: Paixão, quebrei o joelho jogando bola, não consigo andar e estou indo de ambulância para o hospital. Oi??? Pois é! Enfim, resumindo. A Mari Freitas, uma amiga super querida (obrigada!), indicou um médico e deu todo o caminho das pedras. Nessas horas, morando fora, você não tem referência de nada. Nadica. Thiago operou o ligamento, não andou por uma mês e ficou de muletas por dois meses. No dia da cirurgia, ele foi sozinho (coitado!). Eu deixei as meninas no summer camp e fui para lá. Fiquei com ele. Tudo certo, na medida do possível. Deixei ele no hospital, fui buscar as duas do summer camp e quando cheguei em casa, a chuva da laje escorria pelo banheiro e meu quarto pelos spots. Rá! Coloquei todos baldes e panos de chão. Pedi emprestado mais baldes e não parava de pingar. Botei as meninas para dormir e passei a noite tirando água dos baldes e jogando fora. Ohhh maravilha! E no dia seguinte, tudo de novo. 

Amsterdam, Holanda 

Caraca! Nos meus primeiros dias de Holanda, teve perrengue que não acabava mais. 

Primeiro dia de Holanda fomos para Utrecht (outra cidade) para fazer o RG local. Como Thiago não andava, chegamos 3 minutos atrasados. Adivinha? Claro que o cara falou que não ía atender e pediu para remarcar e voltar daqui a um mês. Rá! No dia seguinte, mudamos para a casa, e a geladeira não funcionava. Voltamos para o hotel. O dono comprou uma geladeira nova. Mudamos para a casa. Fomos tomar banho e não tinha água. Voltamos para o hotel. Ele arrumou o registro. Mudamos. Thiago viajou a trabalho. E eu descobri que minha casa tinha ratos (post aqui!), e muitos mas muitos cocôs ratatouille. Três dias depois, voltando da escola de metro, a Valentina ficou presa dentro do vagão e eu e a Vic estavamos fora. O metro andou. Perrengue fodástico!!! Consegui resgatá-la (amém!), voltamos para casa, toca a campainha e meu vizinho de cima fala: Oi, tudo bem? Queria saber se a empresa paga as escolas das suas filhas ou vocês? Oiiii??? Queria mandar para aquele lugar. Enfim, meu marido voltou de viagem. Acordei no domingo e fui a missa , rezar para as coisas melhorarem, mas nessas fases as coisas só pioram. Voltei para casa e de repente meu marido grita: Roubaram minha moto! Pois é, ele trabalhou a vida para comprar e roubaram. Não, não recebemos o dinheiro do seguro e também não tocamos nesse assunto em casa. Não me pergunte, por favor. Obrigada. De nada. 

E agora? Estou craque em perrengues. Super qualquer coisa, por mais perrenguística fodástica que seja. Migs, e você? 🙂