Viagem Cazamigas: Auschwitz e Birkenau, Polônia. Sim, pode separar um pacote de lenços para chorar muito!

Querida amiga-mãe-expatriada,

tenho um acordo com o marido. Viajo cazamigas duas a três vezes no ano, durante o final de semana. Poderia ter escolhido qualquer lugar do mundo (que coubesse no meu bolso, claro!), mas desde a época da escola, quando estudei sobre isso e li Anne Frank, que eu queria conhecer Auschwitz, na Polônia.

Você deve perguntar … mas por quê?

Simplesmente porque faz parte da minha, da sua e da nossa história. Não sou judia e a minha religião pouco importa diante disso. O que importa é que isso aconteceu há poucos anos (super pouco!) e até hoje vivemos em um mundo onde o ser humano mostra o seu pior lado.

Fui com mais duas amigas, a Dani minha amiga da escola que mora em Londres, e a Paty, minha amiga uruguaia que mora em Madrid.

Cracóvia

Como ir

Fomos em janeiro de 2018. Super frio, até nevou. Peguei um voo da KLM de Amsterdam direto para Cracóvia, na Polônia, na sexta-feira depois do trabalho.

Combinei com minhas amigas de pegarmos voos praticamente no mesmo horário e fomos de taxi para o hotel. Um amigo polonês disse que essa era a melhor opção, pois não era tão seguro pegar um ônibus tarde da noite.

Onde ficar

Hotel Alexander

Ficamos dentro da Old Town em Cracóvia. A localização era excelente.

Auschwitz/ Birkenau

Como ir

Os campos ficam localizados na cidade de Oświęcim, que fica a mais ou menos 1h de Cracóvia. Existem várias maneiras para chegar lá, como: trem, ônibus, carro particular ou excursão. Nós optamos por uma excursão.

Empresa: Auschwitz Tours

Fone: +48 505 055 880

A van nos buscou no hotel às 8h00 e voltamos às 17h. Eles dividem o tour por grupos de 10 pessoas. Não pode entrar com mochilas ou bolsas grandes. Não se paga para visitar os campos.

Campo de concentração  Auschwitz

Migs, eu nem sei por onde começar. Posso começar chorando?

Como explicar o inexplicável?

Chegamos em Oświęcim, um local no meio do nada, bem descampado.

Começou a nevar. Eu estava com uma calça térmica, calça jeans, camiseta térmica, malha, casaco de neve, bota com pelo dentro, cachecol, gorro e luvas. Passei frio! Imagina aquelas pessoas com aquele uniforme listrado super fino? Sim, vários morreram de frio.

Nossa guia era uma polonesa nascida em uma cidade próxima. Ela teve parentes que morreram nos campos. Ficou emocionada diversas vezes durante o tour. E isso me doía ainda mais!

Começamos por aquela grade que você deve ter visto em filmes, traduzindo: Somente o trabalho liberta. Passei embaixo do portão e desabei de chorar. Desabei! Mal sabia o que estava por vir.

São alojamentos e mais alojamentos. Uns mais conservados do que outros. Todos iguais. Um era a cozinha. Outro onde o médico Mengele fazia suas “experiências” com mulheres, crianças e gêmeos – tem um livro chamado I was the assistant of Doctor Mengele. Outros tinham quartos com beliches. Banheiros com buracos no chão. O que todos tinham em comum? Artigos chocantes que eu jamais vou esquecer.

Dentro de uma sala tinham milhares e mais milhares de malas de todos os tamanhos, diversos países e com nomes. Sim, eles achavam que era uma viagem para fugir da guerra, mais especificamente do gueto onde moravam.

Dentro de outra sala tinham milhares de objetos pessoais como escovas de dentes, pentes, penicos, bolsas, carteiras, aparelhos de barbear, pratos, canecas e etc.

Dentro de outra sala tinham membros de deficientes mortos.

Dentro de outra sala tinham milhares de sapatos de homens e mulheres mortos em apenas UMA SEMANA.

Dentro de outra sala tinham milhares de sapatinhos de criança. Eu morri de chorar. Desabei. E o pior? Eram apenas os sapatos de crianças que morreram em UM DIA. Eu sou mãe e essa foi a pior experiência.

Dentro de outra sala, na verdade esta foi a pior cena para mim, tinha 6mil toneladas de fios de cabelo. Uma sala gigantesca, do chão ao teto com cabelos trançados de mulheres, crianças e homens.  Sai super mal. Chorando sem parar. Não tirei fotos.

Nos corredores tinham fotos e mais fotos de homens, mulheres e crianças. Foram cinco anos dos três campos, na Polônia. No começo, eles tiravam fotos com o nome e uniforme listrado. Depois as fotos eram somente com um número (mesmo tatuado), e mais tarde não haviam fotos e uniformes pelo custo. As mulheres sobreviviam em média 1 mês. Os homens duravam quatro meses. As crianças já eram mortas imediatamente.

Passamos por outro alojamento que era a câmara de gas. Os prisioneiros achavam que estavam indo para um banho coletivo. Dentro das câmaras haviam buracos no teto, simulando chuveiros para reforçar a idéia. Após entrarem, era liberado um gás que os matava em apenas 20 minutos. Depois, os corpos eram cremados e as cinzas jogadas nos lagos dos campos ou arredores (sem provas dos crimes). Com cinco latinhas, como estas, matavam 700 pessoas.

Tem um filme muito marcante chamado: “O menino do pijama listrado”. Então, lembra de uma casa bem próxima do campo? Ela realmente existiu e era possível ver de dentro do campo.

Campo de Concentração Birkenau

Voltamos para a van e fomos até Birkenau. Um campo dez vezes maior do que Auschwitz, com duas câmaras de gás. O lugar onde houve o maior assassinato em massa da humanidade.

Visitamos o alojamento das crianças e mulheres. Algumas eram mantidas vivas para se caso a cruz vermelha passasse, eles mostravam que estava “tudo bem”. Chamava de alojamento propaganda.

Nesse vagão viajavam 60 pessoas. Eram diversos vagões como esse por dia. As pessoas já saiam do vagão e eram separadas entre homens, mulheres e crianças. Sendo que 80% saia direto para as duas câmaras de gás.

Tinham desenhos de crianças paredes.

Eram três andares de camas –  nem posso chamar aquilo de cama, nem colchão tinha.

Eram buracos no chão do banheiro.

Hitler NUNCA visitou os três campos de concentração na Polônia. O terceiro campo foi implodido no final da guerra, para não deixar rastros.

Auschwitz foi o maior campo de concentração e extermínio da história.  Durante os anos de 1940 a 1945 mais de 1.300.000 pessoas foram mandadas para lá, simplesmente por serem que são. Sendo que 1.100.000 eram judeus, 140.000 poloneses, 23.000 ciganos, 15.000 prisioneiros soviéticos da guerra e 25.000 pessoas eram homossexuais, religiosos e deficientes (homens, mulheres, crianças e bebes – tiveram 3 partos no campo). Destes 1.300.000 apenas 200.000 sobreviveram.

Eu jamais vou esquecer tudo o que vi por lá.