Você trabalha ou convive com diferentes culturas?

Querida amiga-mãe-expatriada,

você trabalha há anos para uma empresa brasileira, mas ela é comprada por uma empresa chinesa. Você participa de um projeto onde tem colegas de outros países. O chefe do seu chefe é americano. A matriz da sua empresa é na Finlândia. O “pica das galáxias” (desculpa pelo nome, mas ele é o cara!) da sua empresa é russo. Esses são alguns pequenos exemplos de interação entre diferentes culturas, mesmo você sentando atrás de um computador no Brasil.

Há cinco anos morando fora do Brasil, já vivenciei e escutei relatos de muitas situações onde no final tudo se resumia a DIFERENÇA CULTURAL.

Sabe aquela tela azul do Windows – PAHHHH na sua cara? Então, diferença cultural é tipo isso. Muitas vezes acerta lá no coração, com um soco na barriga ou aquela vontade de chorar (no meu caso, manteiga derretida!).

Eu já trabalhei para empresas americanas, brasileiras, finlandesa e há três anos trabalho para uma empresa francesa. Já trabalhei com 122mil pessoas de diferentes países (me achany!) e ainda preciso aprender MUITO. Discutindo sobre a diferença entre as culturas no grupo de zap dazamigas da Holanda, uma delas (Cissa, obrigada!) me indicou um livro que eu mega-ultra-power-indico! Chama-se:

The Culture Map, de Erin Meyer.

Migs, eu não vou fazer resenha do livro porque tenho uma pilha de roupas para lavar e aspirador para passar. Fora que vale a pena você comprar! Quero citar algumas partes muito interessantes.

Para começar, não quero dizer que a minha cultura não é boa, os americanos são os melhores do mundo e os chineses vão dominar o mundo. Não é bem por aí. O importante é você entender os pontos positivos e negativos (para você) de cada cultura e saber navegar entre eles da melhor forma possível. Me avisa quando conseguir, porque eu também preciso de ajuda. Eita, que baita desafio! 🤝

A autora criou um modelo de oito escalas, onde cada país se encaixa. São eles:

✔️ Comunicação: alto contexto x baixo contexto

✔️ Avaliação: feedback direto negativo x e feedback indireto negativo

✔️ Persuasão: princípios x aplicações 

✔️ Liderança: igualitária x hierárquica

✔️ Decisão: consensual ou top down

✔️ Confiança: baseada em resultado x baseada em relacionamento

✔️ Não concorda: confronta x não confronta

✔️ Tempo: linear x  flexível.

Comunicação de alto contexto x baixo contexto

Tem culturas que são de alto contexto como os americanos. Tudo é super-hiper-mega-ultra-bem explicado, se você não entendeu, então eu não soube te explicar (o erro é meu!). Acho que eles nasceram para fazer “manual” de produto. Nas reuniões de trabalho, sempre começam com aquele blablabla: Estou super feliz e lisonjeado em fazer parte desse excelente time e sei lá mais o que … querido, come on! Você estaria feliz mesmo é numa praia no Caribe.

Outro exemplo é em UK, no final de cada reunião eles fazem o “recap”. Falam tudo o que aconteceu na reunião: “Acordamos que vamos promover o Ciclano dia 12 de 2056, para fazer 87 planilhas de XPTO”. No Brasil, conhecido como uma cultura de baixo-contexto, após o término dessa mesma reunião, a pessoa manda um email com a ATA ou o “recap” por escrito. Isso pode ser uma ofensa em outras culturas, soa como falta de confiança escrever o que já foi falado.

Mais um exemplo é um americano mandar um email (bem claro) para um fornecedor solicitando algo. O britânico vai responder dentro de 24 horas que não tem a resposta, mas na quarta-feira vai dar a solução. Os espanhóis e italianos não vão responder o email, mas depois de duas semanas respondem: resolvi tudo, fiz tudo e tudo está pronto.

As culturas asiáticas como chinês, koreano, japonês, só vão falar em uma reunião se foram solicitados.

Em todos os países conceituados como baixo-contexto a comunicação fica nas “entrelinhas” e tem que entender o que está “pelo ar” … o que torna muito difícil a comunicação entre essas culturas.

Feedback direto negativo x e Feedback indireto negativo

Migs, a autora traça uma linha e coloca os países de acordo com cada tipo de feedback ou melhor FODEback. Adivinha qual é o país da cultura de mais FODEback? Holanda! Welcome to my life. Isso mesmo. Eu vivo isso praticamente todos os dias no meu trabalho e em todos os lugares da Holanda. Eu e todos expatriados que moram aqui.

Segundo a autora, o holandês da feedback na frente de qualquer pessoa ou grupo, e principalmente para qualquer pessoa. Isso mesmo! Ou seja, se ele quiser falar que o chefe não é bom, ele fala na cara do chefe mesmo e na frente de todos. Eu falei que não concordava com algo numa reunião, o holandês levantou e saiu andando. Já vi funcionário jogando a caneta no colo do chefe e mandando ele fazer, e segue o baile da vida … minha gente, aqui é assim! E estou penando para entender.

O americano fala quatro 3/4 coisas positivas e depois senta que lá vem bomba! O francês (eu trabalho com eles!) fala a bomba e depois as coisas positivas. Particularmente, prefiro dessa forma.

Persuasão: princípios x aplicações

Um exemplo citado pela autora é nos EUA. Normalmente nas salas de aulas, eles passam um case (caso de sucesso) e depois falam sobre o assunto, agregam conceitos e fazem uma conclusão. Em uma cultura como a da Alemanha, isso não é aceito. As pessoas foram treinadas para começar uma apresentação (ppt) construindo um argumento teórico (com muitos conceitos).

Liderança: igualitária x hierárquica

Os países latinos são super hierárquicos. Os italianos e espanhóis também. Os asiáticos (coreanos, japoneses, chineses, indianos, tailandeses e etc) são 100% hierárquicos, seja no trabalho, em casa, na rua e etc. Em alguns desses países isso tem mudado, mas muito pouco ainda. Por exemplo, no ambiente de trabalho os colaboradores usam mesas sem baias, e algumas empresas pode escolher a mesa no dia. Já em outras empresas, o Diretor tem sala e com janela. Uau!

Para um Diretor de um país escandinavo é um saco ter que aprovar tudo e ser consultado para tudo.

A PCD da minha empresa, People Culture Director, conversou muito comigo e disse que no Brasil é uma cultura de pai e filho, ou seja, desde pequenos somos orientados, pedimos permissões e crescemos assim no ambiente de trabalho também. Já na Holanda, um país de adultos, isso não acontece porque tudo é de igual para igual.

Decisão: consensual ou top down

Eu nem preciso reforçar o que todo mundo já sabe … sim, no Brasil a decisão é top down – quem manda nessa poha sou eu! Inclusive você não pode de forma alguma mandar email para uma pessoa que tenha um cargo superior, se o seu gestor não estiver ciente. Na Holanda pode, minha gente! No livro, um mexicano cita que o time todo dele holandês mandava email direto para o CEO e ele queria se jogar no canal pois não sabia de nada.

Em uma cultura consensual, onde as decisões são feitas em grupo, leva-se mais tempo para tomar uma decisão. No entanto, por ser consensual, o processo de implantação da decisão é mais rápido. Por outro lado, estas decisões são mais rígidas e muito mais difíceis de mudar.

Confiança: baseada em resultado x baseada em relacionamento

Quando comecei a trabalhar em UK, há três anos, não entendia como um mega-ultra-power cliente nosso não era chamado para nem um almocinho básico. Isso mesmo! Zero relacionamento. Aqui, na Europa, é resultado. Exceto na Espanha e Itália.

Não concorda: confronta x não confronta

As pessoas dos países asiáticos são condicionadas desde o nascimento a não confrontarem jamais, seja dentro e fora do trabalho.

A autora conta que nas palestras para italianos, argentinos e espanhóis é bombardeada por perguntas e colocações a todos instante. Para começar, não sabe nem ao certo qual será a quantidade de pessoas no evento e muito menos o público alvo.

Tempo : linear x flexível

Nas culturas de tempo linear, os passos de um projeto devem ser abordados de forma sequencial, completando uma tarefa, antes de começar a seguinte. Sem interrupções. O foco é o prazo final e o respeito a programação.

Nas culturas de tempo flexível, os passos de um projeto são abordados conforme as oportunidades. Muitas coisas são executadas simultaneamente. Resumindo: um verdadeiro samba!

Migs, vamos lá … julgar uma cultura não vai te ajudar em nada. Uma amiga brasileira na Holanda, Analu, me disse que é melhor apertar o RESET e seguir o baile da vida. Isso mesmo é o que estou tentando fazer … mas está fodástico!

Postado em Emprego na Europa, MORAR EM AMSTERDAM, MORAR EM LONDRES, MORAR EM MADRID, MORAR EM SANTIAGO.

Prazer, Nati. Mãe da Valentina(2012) e Victoria(2015). Casada com o Thiago Marchi, que me fez expatriar por amor. Moramos em SP(Brasil), Santiago(Chile), Londres(UK), Madrid (Espanha), e Amsterdam (Holanda) no últimos 12 anos. Trabalho em vendas de software, amo viajar (52 países and counting ...) e ler. Bem-vinda ao zero glamour de uma mãe expatriada!

9 Comments

  1. Eu nasci e cresci no Brasil mas estudei durante mtos anos numa escola alemã. Hoje trabalho no UK para uma empresa Australiana com pessoas do mundo todo. É realmente mto interessante esse recorte social e entender como a cultura (e o background) das pessoas influenciam o comportamento delas. Mesmo no Brasil ainda me lembro de ficar horrorizada por não poder sair da sala após bater o sinal depois que mudei da escola alemã para uma especializada em vestibular. Eu tinha 12 anos e falei: ” mas se vc (professor) que decide que hora podemos sair para o intervalo, pq tem sinal então?

  2. Pingback: Eis a grande questão: "Você acha que o holandês é sincero ou agressivo?" | Expatriada por Amor - Blog de Natália Campos Marchi | Expatriada por Amor - Blog de Natália Campos Marchi

  3. Adorei esta matéria, parabéns!! Diversas culturas de trabalho para quem quiser entender melhor como é trabalhar fora do Brasil…

    • Ola Rosemeri, obrigada. Realmente, muitas vezes as pessoas acham que tudo aqui e maravilhoso. Pode ser maravilhoso, desde que voce aprenda a navegar entre as diferenças culturais. Bjos Nati

  4. Excelente post! Amo seu blog Natalia, seu insta… Eu amo ver os diferentes pontos de vista das coisas por ai… Parabéns!

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